Um Português em Londres a exercer a profissão que gosta!
Veríssimo Gil Miranda da Silva, 25 anos, natural de Ribeirão, residente em Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga. Alegre, divertido, altruísta por natureza, estou consciente da necessidade do bem estar de todos, por isso escolhi Enfermagem como profissão.
Atualmente, dadas as circunstâncias económico/politico/sociais em Portugal emigrei para Inglaterra. Sou enfermeiro em Londres, no Reino Unido, desde Abril de 2012, após quatro anos de licenciatura na Escola Superior de Enfermagem na Universidade do Minho em Braga.
1.Quando iniciaste a tua licenciatura em Enfermagem, já perspetivavas seguir uma carreira fora do país?
Sim, desde o ensino secundário que tencionava sair do pais, para ver outras culturas, outras realidades profissionais e outros métodos de trabalho. Sabendo da situação de desemprego relativa a enfermagem quando terminei o curso em 2011, decidi juntar o útil ao agradável. Nunca tive receio de sair e sempre gostei de viajar . Realizei ERASMUS no 4º ano, durante 5 meses, onde vivenciei novas aventuras e, deste modo, adquiri uma nova perspetiva do que e trabalhar fora do pais, isto é, mudar de país.
2. Como chegaste à opção “Reino Unido”
Tao simples quanto eu saber falar a língua inglesa quase tao bem como o nosso “português”. Depois de um seminário de esclarecimento acerca de emigração, que ocorreu no Porto, fiquei um pouco indeciso entre Irlanda ou Reino Unido, mas depressa conclui que deveria ir para o “UK”. Nesse seminário, entre as empresas de recrutamento para o Reino Unido, estava a Kate Cowhig, à qual deixei o meu contacto de email e enviei o meu CV.
3. Como se processou a escolha do local de trabalho?
Apos a inscricão na Kate Cowhig, depressa surgiu a oportunidade de ser entrevistado para um Hospital, em Londres, a qual decidi não desperdiçar. A agencia de recrutamento ajudou muito pois nos e-mail que recebia, eram enviadas matérias de estudo que poderiam sair na entrevista escrita, tinham também excertos sobre o “CQC”, o qual temos de ter conhecimento e atenção antes de virmos para o UK e ainda nos ajudaram na forma como ir vestidos, pois há umas regras de vestuário a manter nas entrevistas. Depois de serem dadas as datas das entrevistas, escrita e oral, foi uma questão de estudar termos científicos e relembrar a gramatica do inglês.
A entrevista escrita consistiu num pequeno exame de fácil resolução, ao qual passei, pois a matéria era praticamente as mesma que a Kate Cowhig nos disponibilizava nos e-mail. Porém, na entrevista oral, apesar de ter à minha frente duas “matron”, fiquei um pouco nervoso, mas acabei também por passar. Fomos felicitados pela própria Kate Cowhig. Seguidamente, foi só tratar de burocracias como obter o “Pin number” e a marcação do voo de acordo com o nosso inicio da prática profissional.
4. E os primeiros tempos, como foi essa adaptação?
A adaptação foi relativamente fácil, pois fui com um grupo de cerca de 30 enfermeiros portugueses, com os quais fiquei alojado numa especie de “residencial”, ou mesmo uma “residencia universitária”, tudo organizado pela empresa Kate Cowhig. O alojamento ficava em Stratford, perto de um dos estádios olímpicos e do centro comercial “westfield”. Ficava tudo relativamente perto de onde vivíamos, o centro de Londres ficava a 20 minutos de metro e o hospital a 5 minutos de metro, mais outros de autocarro. Sempre nos ajudamos uns aos outros e, por isso, a adaptação foi muito mais fácil do que se fosse sozinho. Sendo Londres uma “cidade do mundo” não e’ difícil perceber que há oferta de tudo em praticamente todo lado.
5. O que é que foi mais complicado de gerir?
Sejamos realistas, sendo o povo português um povo saudosista, eu não fujo a regra. Sem dúvida que o que mais custa deixar é namorada, família e amigos para trás, enquanto procuramos um novo rumo e uma nova Engsolução para a vida, temporária ou definitiva. Se tiverem com medo de sair do pais, lembrem-se que o Reino Unido está só a umas miseras 2:30 h de avião, em media, e, de que, pelo menos, de 2 em 2 meses podemos voltar, seja com ferias ou umas folgas. Por acaso o tempo metereologico não me faz muita diferença, mas não vou mentir se disser que, se estamos em novembro e esta sol em Portugal com máximas de 20 graus, no Reino Unido não devem chegar a máximas de 8 graus. Consequentemente, o clima também é um fator saudosista!
6. E as diferenças relativamente ao exercício da profissão?
Este aspecto em particular, foi o que requereu maior adaptação da minha parte. Admito que é o que me faz pensar muitas vezes se continuo, ou não, no Reino Unido. S
em a mais pequena dúvida que, comparativamente, um recém licenciado português é muito melhor que um recém licenciado em Inglaterra, seja em termos teóricos ou práticos. Aquele “raciocínio critico” e “olho clinico” que os professores tanto nos tentavam incutir nas aulas e estágios é muitas vezes inútil para quem vai trabalhar para o Reino unido. Tudo é estipulado por outrem de grau hierárquico superior. Se tentamos mudar comportamentos ou mentalidades nem sempre somos bem interpretados, porque não é assim que se faz no serviço em questão. Se anteriormente em Portugal havia uma discussão saudável com o professor ou Enf. tutor, sobre qual o melhor “penso” a usar, agora simplesmente seguimos o “care plan” estipulado. Se sabemos e dizemos que aquele não é o melhor “penso” a ser usado, dizem-nos para continuar, pois se alguma coisa correr mal, a responsabilidade e a culpa será nossa. Eu não consigo concordar com este ideal de trabalho, pelo menos mentalmente, pois procedo conforme o estipulado, para não desestabilizar essa dinâmica de trabalho.
Outra grande diferença é a burocracia existente em volta dos utentes. Desconhecendo outras realidades hospitalares, no meu local de trabalho praticamente nada é computorizado e tudo é em papel. Há “standards” para tudo e mais alguma coisa, contudo reitero que se uns são necessários, considero outros uma completa perda de tempo para o enfermeiro, quando poderia estar a prestar outros cuidados diretos ao utente.
7. Existe uma presença portuguesa notória em Londres?
Nem sei como responder a esta pergunta, pois Londres é um dos grande destinos de migração da comunidade portuguesa. Alem dos enfermeiros, há inúmeros trabalhadores em cafés e restaurantes portugueses, entre outras profissões.
8. Satisfeito com a escolha?
Apesar das notórias diferenças entre as diferentes formas de trabalho, sinto-me satisfeito com a escolha. Tenho independência econômica, emprego estável, boa habitação e resido numa grande capital. Relativamente aos meus colegas enfermeiros que ficaram em Portugal, posso dizer que estou melhor , pelo menos a nível económico e monetário.
A nostalgia acentua se quando pensamos no quanto gostamos das pessoas próximas e na hora da despedida. Por vezes, surge uma vontade quase indescritível de desistir de tudo e ficar em Portugal e não ir para mais lado nenhum. No entanto, se queremos lutar por um futuro melhor e exercer a profissão que gostamos, não vejo muitas hipóteses além da emigração.
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