Leila | Uma enfermeira portuguesa em Sion | Suiça
O meu nome é Leila Rascão, sou natural de Sion (Suíça), onde completei o 5º ano de escolaridade. No entanto, cresci no Algarve, em Albufeira.
Sempre fui boa aluna, muito atenta nas aulas e a atracção pela área da saúde esteve sempre presente.
Desde que me conheço que assistia apaixonadamente a tudo o que dizia respeito aos serviços de urgência na televisão. Penso ter herdados alguns genes da minha avó paterna que foi enfermeira durante 41 anos, hoje reformada.
Porquê a Suíça ?
Porque não me era totalmente desconhecida e já falava francês.
Como se processou a escolha do local de trabalho ?
Depois de três anos a trabalhar como enfermeira num serviço polivalente de medicina e cirurgia no Algarve, e visto a falta de oportunidade para trabalhar no serviço que sempre ambicionei (Urgência), decidi tentar desenvolver a minha carreira no país em que nasci.
Mudei-me, então, em Abril de 2012 depois de ter vindo a uma entrevista em Março do mesmo ano e ter, inclusivé, feito um estágio de um dia na instituição. No entanto, vim sob influência de um contrato oral com início de funções em Maio de 2012, que nunca aconteceu. Por sorte e interferência de uma amiga cá residente, fui a uma entrevista ao hospital central do cantão –Hôpital de Sion (ao qual já tinha enviado dois curricula, ambos com resposta negativa) onde fui aceite para enfermeira « pooliste ». Este posto tem por objectivo substituir os (as) enfermeiros(as) escalados (as) de um serviço que não possam apresentar-se por algum motivo. Trata-se de um posto muito diversificado e enriquecedor mas também muito exigente devido aos conhecimentos que se deve ter das várias especialidades médicas e cirúrgicas. Neste caso concreto, trabalhava à hora e por vezes acontecia de não saber se iria trabalhar no dia seguinte. Em suma, só trabalhava se precisassem de mim. O valor horário é aumentado nesta situação porque engloba já as férias, as folgas e feriados. Eu aceitei tudo o que me propuseram durante os 4 meses em que trabalhei neste sistema.
Findo estes, entrei para o serviço de Urgência do hospital central da região – o Hospital de Sion. Aí fiquei até ao momento actual (nota : em Dezembro de 2013, regressarei a Portugal por motivos conjugais – o meu namorado não encontrou trabalho durante os 9 meses que cá esteve e tinha emprego em Portugal). Portanto, não foi uma escolha, foi o que me propuseram e eu aceitei. Actualmente não é nada fácil entrar num hospital pela via normal (recursos humanos com candidatura espontânea), uma « ajuda » é bem vinda e pode fazer a diferença.
E a adaptação ?
Se for a fazer um balanço da minha permanência na Suíça, devo alertar os colegas que pensam emigrar que este processo não é nada fácil. Deixamos a nossa zona de conforto e aventuramo-nos no desconhecido. Deixamos família, amigos e hábitos para trás.
Na Suíça, a vida é muito cara e há encargos mensais elevados (a renda, o seguro pessoal de saúde, despesas relativas a carros se cá os adquirirem), embora o salário de um enfermeiro seja mediano em relação a outras profissões. No entanto, o meu salário chega bem para isso tudo mas não posso fazer mais nada. Ou seja, vivo como uma emigrante e é isto que as pessoas têm que ter noção. Ou se faz vida de emigrante e se junta um bom « pé de meia » ou então ganha-se para gastá-lo todo. Cada um sabe das suas prioridades e não é censurável por assumir nenhuma das duas.
Confirmas que existe uma diáspora de enfermeiros portugueses já visível na Suíça?
Fiquei espantada com a quantidade de enfermeiros portugueses presentes neste hospital assim como nos outros da rede hospitalar desta região. Fala-se português nos corredores e até sinto alguma empatia entre os enfermeiros portugueses deste hospital, independentemente do serviço em que se encontrem. Não nos sentimos muito desenquadrados por cá porque a comunidade portuguesa em sion é enorme.
Satisfeita com a opção ?
Na Suíça aprendi a ser valorizada e a ter direitos que em Portugal não se sonha ter nem daqui a muito tempo. Mas depois, a questão é : somos felizes cá fora ? Eu não o fui completamente e privo-me de coisas que em Portugal nem penso negar-me como tomar café, ir a um cinema ou jantar fora (modestamente). Por isso, caros colegas, se pensam em sair do país, informem-se muito bem do que vão encontrar lá fora e perguntem-se se a saudade do que é nosso vale mesmo a nossa partida. Eu regresso com consciência do que vou viver (e não nego que me mete medo) mas prefiro viver com menos e viver melhor do que com muito e não poder aproveitá-lo. Sejam felizes!
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