Cátia Medeiros | Migrar para Inglaterra | Sim, sou feliz!
Cátia Medeiros é uma enfermeira de 24 anos natural da ilha de São Miguel, Açores. Licenciada em 2011 pela Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada, Universidade dos Açores. Tem como principais hobbies ler e ouvir música. Considera-se uma pessoa persistente e independente, características que considera determinantes na sua decisão de emigrar. Decidiu ser Enfermeira pois considera que a profissão engloba aquilo que mais gosta: a parte humana e a parte científica do ser enfermeiro. Chegou a Inglaterra em Julho de 2012, onde trabalha como enfermeira de recobro na cidade de High Wycombe, Buckinghamshire.
Cátia, porque a Inglaterra?
Apesar de ter encontrado trabalho em Portugal como enfermeira, decidi que emigrar seria a melhor opção para mim. As minhas pesquisas começaram por Inglaterra, dado a facilidade com a língua. Durante alguns meses as únicas propostas para Inglaterra relacionavam-se com lares, continuei a pesquisar e cheguei a ponderar a ida para a Bélgica. Finalmente a oportunidade de trabalhar num hospital público inglês surgiu e a decisão final foi tomada.
Como se processou a escolha do local de trabalho?
Na altura em que enviei o CV para a empresa Kate Cowhig, haviam dois hospitais ingleses a recrutar enfermeiros portugueses. Um na cidade de Bath e o outro em High Wycombe. Este último tinha vagas na área que eu pretendia, Bloco Operatório. Dado que esta cidade ficava mais perto de Londres e por consequência, dos aeroportos, a decisão tornou-se fácil.
E a adaptação?
Com voo marcado para dia 26 de Julho, tive de viajar de São Miguel para o Porto no dia anterior para me juntar aos restantes colegas recrutados. Na noite que passei sozinha num hotel do Porto só pensava “Cátia onde te foste meter!…”. No aeroporto após as apresentações, senti que ao menos apoio não me iria faltar. Eramos 11 no total e estávamos todos no “mesmo barco”. Os primeiros dias foram stressantes com a procura de casa, comprar as coisas mais básicas, as deslocações para a Induction no hospital. Andávamos sempre a correr com idas ao Starbucks para ligar para casa via Skype… Foi vital o facto de nos termos unido todos: jantar para 11, saídas a 11, filmes para 11. Confesso que foi mais fácil que aquilo que eu antevi…recebi mensagens de familiares a perguntar se eu tinha emigrado para trabalhar ou para me divertir! Ao que eu pergunto? Porque não os dois?
Quais os principais constrangimentos encontrados, ao nível social e profissional?
Inglaterra é o país das siglas, durante meses andei em constantes idas ao Google para descobrir o significado de várias siglas com que me deparei. Toda a linguagem científica envolvida era um tanto desconhecida, especialmente no que tocava ao bloco operatório. Considero que ainda tenho um longo caminho a percorrer, todos os dias aprendo algo novo. A hierarquia de Enfermagem, os horários e as competências do enfermeiro são um tanto diferentes das que encontramos em Portugal, dado que aqui o curso de Enfermagem dura apenas 3 anos. Após a conclusão do curso, cada Enfermeiro passa por uma série de formações para poder exercer todas as suas competências (tirar sangue, puncionar, algaliar pessoas do sexo oposto). É necessário fazer um esforço para nos integrarmos naquilo que é o sistema inglês e não fazer tantas comparações com Portugal.
A nível social, a Inglaterra é um país multicultural. Trabalho com pessoas vindas dos quatro cantos do mundo, daí que eles estejam habituados a receber imigrantes. Nestes quase 16 meses houve apenas uma situação em que não me senti bem-vinda, ao ouvir um infeliz comentário de uma enfermeira inglesa que era contra a emigração. Felizmente no meu serviço contei sempre com o apoio dos meus colegas, em especial das minhas chefes. Outro aspecto muito diferente é que aqui a vida diária começa e acaba bem mais cedo que em Portugal. Foi um tanto estranho adaptar-me a esse estilo de vida, “deitar cedo e cedo erguer”!
Confirmas que existe uma diáspora de enfermeiros portugueses já visível na Inglaterra?
No total este centro hospitalar, para o qual trabalho, contratou cerca de 60 enfermeiros. Durante o verão de 2012, o tema de conversa era o magote de enfermeiros portugueses que se haviam instalado em High Wycombe e numa cidade vizinha. Foi engraçado encontrar colegas ao fazer a passagem de turno, nas idas as compras e numa simples viagem de metro! Encontramos portugueses que já cá andam há mais de 10 anos, muito contentes pela comunidade portuguesa estar a aumentar, mesmo que não seja pelas razões mais felizes.
Satisfeita com a opção?
Sete meses após ter chegado a Inglaterra, voltei pela primeira vez a são Miguel para férias durante o Carnaval. Sentada à mesa de jantar, essa foi a primeira pergunta que os meus pais me fizeram. Na altura, confesso que estava indecisa entre mentir e dizer a verdade… A verdade é que sim, estava muito feliz com a minha opção. Sabia que na verdade os ia deixar contentes mas ao mesmo tempo tristes por saber que quero continuar cá. Considero que todo o processo de procurar trabalho fora se iniciou por pura curiosidade…o bichinho instalou-se e levou-me até aqui. Tenho noção que perco muitas coisas no dia-a-dia dos meus familiares e amigos. Aniversários, Natais, festas de família, saídas com os amigos. A saudade torna-se uma constante, as idas ao Sapo para saber notícias do país, as chamadas pelo Skype e as encomendas que chegam pelo correio com as iguarias das ilhas! Apesar de tudo isso, a satisfação pessoal e profissional fazem com que a saudade se torne um pouco mais leve. A Inglaterra tem muito para oferecer: progressão na carreira, lindas paisagens, oportunidades culturais, bons amigos… Sim, sou feliz!
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