Cátia Ferreira | uma enfermeira na Bélgica
Entrevista para o Emprego Saúde por:
Mónica Sousa
Administradora do grupo do facebook
Grupo Enfermeiros em Portugal e no Mundo
Questões baseadas no artigo de Inês Almeida
Filipa Mendonça, na rota da diáspora da enfermagem
Cátia Ferreira. 24 anos. Nascida em Baltar, distrito do Porto. Defino-me como Teimosa, faladora quanto baste, divertida e apaixonada por viagens. Durante anos quis ser jornalista, mas aos 18 anos ao ter o meu primeiro contacto com o meio hospitalar, e ao visualizar a capacidade de trabalho de uma equipa que dá 100% todos os dias para o bem-estar do outro, decidi ser enfermeira, profissão que exerço em Anderlecht, Bruxelas há um ano, após quatro anos de licenciatura na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria. Aos 24 anos considero me realizada e feliz com a decisão de deixar Portugal.
Cátia, quando iniciaste a tua licenciatura em Enfermagem, já perspectivavas seguir uma carreira fora do país?
Sim, frequentei o curso de enfermagem em Leiria durante 4 anos. Quando iniciei a licenciatura em enfermagem, tive esperança de conseguir trabalho em Portugal, mas a partir do 3º ano percebi que não ia ser fácil e comecei a pensar em alternativas, como trabalhar fora do país. Ideia assustadora inicialmente, mas que se foi tornando forte com o passar do tempo, sobretudo depois de realizar Erasmus em Espanha durante 3 meses.
Como chegaste à opção “Bélgica”?
Decidi escolher a Bélgica depois de uma palestra realizada pela BestPersonnel na minha escola, sobre países que têm mais carência de enfermeiros. Falaram sobretudo de Inglaterra e da Bélgica. Decidi escolher a Bélgica, porque é um país semelhante e próximo de Portugal, e sobretudo porque ouvi testemunhos muito positivos quanto ao modo de vida e de trabalho. Então apostei em aprender francês, inscrevi-me na BestPersonnel e enviei os documentos necessários para trabalhar na Bélgica e depois de 5 meses tinha tudo tratado e a passagem de avião.
Como se processou a escolha do local de trabalho?
Quando me inscrevi na BestPersonnel, respondi a um anúncio para cuidados continuados na Bélgica, depois tive o primeiro contacto com a empresa que me disponibilizou todas as informações e opções de trabalho. Tive uma primeira entrevista online com a pessoa responsável que quis conhecer os meus objectivos, e também explicar-me o que era necessário para conseguir a autorização de trabalho. Passado um mês contactaram-me e já tinha trabalho em Anderlecht. Os restantes meses foi para tratar de burocracias.
E os primeiros tempos, como foi essa adaptação?
É sempre difícil deixar a cidade que viveste durante anos, mas eu estive sempre muito entusiasmada, queria mesmo começar a trabalhar e ser independente, então tentei manter a mente aberta.
O primeiro mês é crucial, é o mais difícil como costumo dizer, é quando tens o contacto verdadeiro com a língua, com o trabalho e com as pessoas.
Eu vim com o meu namorado, também ele enfermeiro e ainda hoje consideramos que tivemos muita sorte. A cidade é óptima, muito calma e as pessoas receberam-nos muito bem.
Relativamente à cultura dos belgas apesar de por vezes pensarmos que sim, não é muito diferente da nossa, mas como Bruxelas é um país que se situa no centro da Europa, acabamos por conviver com pessoas de diferentes países o que acaba por ser engraçado conviver com os seus diferentes costumes.
A língua francesa foi o maior obstáculo, porque vinha de Portugal optimista quanto ao meu nível de francês, e quando cheguei à Bélgica, nas primeiras semanas as pessoas falavam tão rápido que só entendia as primeiras palavras. Mas com o passar do tempo, e com a ajuda da equipa com quem trabalho, as coisas foram ficando mais fáceis.
O que é que foi mais complicado de gerir?
Como já referi anteriormente, posso considerar que tive muita sorte, a empresa conseguiu arranjar-me casa antes de chegar à Bélgica, depois tive a companhia do meu namorado em todo o processo e por fim foi também a equipa de trabalho sempre muito acessível, o que facilitou a mudança.
Mas como é óbvio, as lágrimas que deixamos cair quando deixamos a família e amigos foi e continua a ser o mais difícil, mas felizmente que temos as tecnologias como o Skype que facilita muito as coisas! Depois existem sempre as saudades da comida que nunca é a mesma que a mãe faz, e do sol, pois, em Bélgica é praticamente Inverno o ano todo. Mas estes são aspetos que vão sendo ultrapassados com o tempo.
E as diferenças relativamente ao exercício da profissão?
Sim é verdade cheguei a Bélgica só com a experiência dos estágios, e posso afirmar que estamos muito bem preparados. Claro que as primeiras semanas são sempre uma novidade e de constante aprendizagem, porque tens de perceber a organização do serviço, conhecer a equipa, os doentes… mas tem sido muito bom, sobretudo porque os métodos de trabalho, as técnicas são as mesmas que aprendemos na escola, às vezes com uma ou outra diferença, mas quando isso acontece existe liberdade para discutir as diferentes alternativas.
Eu neste momento trabalho no privado, em psiquiatria, nas conhecidas ”nursing Home”, e as condições para os pacientes são muito melhores comparadas com Portugal, há todo um cuidado que em Portugal no mesmo tipo de situação não existe. Mas os cuidados e a organização de trabalho é semelhante.
Um aspecto onde notei que realmente estamos mais preparados, é no tratamento de feridas, temos mais conhecimentos, mais vigilância e mais assepsia.
Outra grande diferença passa pela burocracia: papéis e dossiers para tudo e mais alguma coisa, perco muito tempo diariamente no que toca a completar e assinar os meus cuidados.
Um aspecto positivo é que existe abertura e possibilidade de discussão no que diz respeito à relação enfermeiro – médico, o que é muito satisfatório.
Tenho que reforçar também que a capacidade de trabalho dos portugueses em relação aos belgas/outras nacionalidades é enorme, observa-se isso diariamente, trabalhamos mais horas se necessário, não faltamos ao trabalho, estamos constantemente disponíveis e trabalhamos rápido e bem, por isso é que gostam tanto dos enfermeiros portugueses e isso é mais um ponto positivo para quem pensa vir trabalhar para a bélgica.
Existe uma presença portuguesa notória em Bruxelas?
Sim, existe uma grande comunidade portuguesa aqui em Bruxelas. Conheço muitos enfermeiros que deixaram Portugal na esperança de um novo começo, existem também muitos cafés, restaurantes e curiosamente existe uma praça que é conhecida como a praça mais portuguesa de Bruxelas, a praça Flagey.
Satisfeita com a escolha?
Estou a gostar muito e tenho a certeza que a fiz a escolha acertada. A bélgica é um óptimo país para viver e trabalhar, a comunidade belga gosta muito dos portugueses e recebem-nos muito bem.
A decisão é difícil, deixar família e amigos… é uma saudade diária, mas temos sempre que acreditar que pode haver um futuro risonho à nossa espera em qualquer lugar do mundo.
Por isso quando vejo as pessoas indecisas se devem ou não lutar por um novo começo, o meu conselho é não desistir, não ter medo, o estrangeiro é uma óptima opção, existem muitos países que querem e gostam muito dos enfermeiros portugueses por tudo: pelo óptimo currículo, formação.. por isso devemos aproveitar e fazer o que mais gostamos..que é cuidar do outro, seja ela inglês, francês, alemão, o importante é a formação e o carinho à profissão e se isso existe, a sorte vai estar do nosso lado.
Entrevista para o Emprego Saúde por:
Mónica Sousa
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